
O IPCC é um órgão composto por delegações de 130 governos
para prover avaliações regulares sobre a mudança climática global. Sua criação
se deu devido à percepção de que a ação humana poderia estar exercendo uma
forte influência sobre o clima do planeta, sobretudo através da emissão de gases
– como o dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4), que
causam o efeito estufa. Desde então, o IPCC tem publicado diversos documentos e
pareceres técnicos.
Sem duvida, é um órgão que sofre pressões políticas –
ingenuidade seria pensar o contrário. A pressão é mais percebida nos textos
destinados aos formuladores de políticas públicas, enviados pelos países que
são os maiores poluidores do planeta, e que detêm maior poderio
econômico-militar. Todavia o IPCC procura manter o seu perfil científico.
Como não existe infalibilidade nas ciências, em particular
em um tema de tal complexidade científica, como a da interpretação dos
fenômenos climáticos e sua correlação causa-efeito, algumas das previsões mais
alarmistas do IPCC, no passado, contribuíram para certo desgaste de sua
reputação e prestígio. Como foi o caso das previsões, em 2007, do
desaparecimento das geleiras do Himalaia. O IPCC aprendeu e, por sua vez, passou
a adotar critérios mais exigentes para as asserções e previsões incluídas em
seus relatórios e pareceres.
Lamentavelmente uma minoria (minoria mesmo) de técnicos,
cientistas, políticos, com interesses escusos, tenta enxovalhar o trabalho do
IPCC. Assim, causando danos não apenas ao IPCC, mas aos moradores do planeta
Terra, visto que as questões levantadas (cientificamente duvidosas) acabam
postergando as medidas de políticas públicas que precisam ser adotadas com
urgência pelos governantes. O que pode ser um erro fatal para o planeta – erro
causado por esses que maculam o trabalho do IPCC.
Na historia recente da humanidade, temos exemplos de graves
danos à vida humana causados pela intervenção de ditos “cientistas”. O exemplo
mais contundente foi a “polêmica” provocada na segunda metade do século passado
com relação ao cigarro provocar ou não o câncer. Dúvidas “plantadas” por
lobbies poderosos (através desses “cientistas”) sobre a relação de causa-efeito
atrasaram a tomada de medidas concretas contra o cigarro – medidas que poderiam
ter evitado a morte de milhões de pessoas em todo o mundo.
Por outro lado, exemplos mostram que podemos tomar decisões
coletivas para preservar o planeta. O Protocolo de Montreal é um bom exemplo.
Este tratado mundial, assinado em 1987, levou ao banimento dos
clorofluorcarbonos (usados então nos compressores de geladeiras residenciais em
todo o mundo), que reduzem a camada de ozônio e agravam para os seres humanos
as consequências das radiações ultravioletas, causa principal do câncer de
pele. O tratado também impediu uma maior concentração de poluentes na atmosfera
e mudanças climáticas ainda mais graves.
Não se pode desmerecer o papel do IPCC e a repercussão de
suas conclusões, as quais definitivamente colocaram a discussão da mudança
climática entre as grandes questões mundiais e um dos principais temas da
agenda política em diversos países.
A polêmica e a crítica são boas e necessárias. O que deve
ser repudiado são as tentativas de desqualificar esse órgão de fundamental
importância para a compreensão das mudanças no clima e para a tomada de
decisões urgentes que assegurem que a vida continue no planeta como a
conhecemos... Pois assim queremos que continue!
Heitor Scalambrini Costa - Professor da Universidade Federal de Pernambuco.
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