
Carlinhos era um querido amigo meu. O conheci ainda na infância quando meus pais moravam na perto da praça nos anos 60 (sessenta). Lembro das aventuras que aquele garoto franzino produzia e que, naquela época, chama a atenção de toda a cidade. Tenho uma imagem daqueles tempos na memória que a de ver a polícia procurando uma pessoa. A praça estava cheia de gente e Carlinos encima do telhado da casa dos seus pais gritando que não iria se entregar.
Ele foi uma das primeiras pessoas a inaugurar o famoso mural da guarda da Chesf – Companhia Hidrelétrica do São Francisco, onde ficam as fotos das pessoas indesejadas a entrarem na vila operária. Depois muitos de nós também tivemos fotos colocadas lá.
Carlinhos passou pela vida livre, sem amarras. Ele escolheu o estilo que melhor lhe dava prazer e curtiu tudo o que queria sem prejudicar a ninguém. Se ele fez alguma má foi a si mesmo. Não há uma pessoa que o possa acusá-lo de ter feito alguma coisa de errado com alguém.
Carlinhos, a despeito de suas escolhas, sempre teve muitos amigos. Todos os que conviveram com ela na infância e durante a vida podem testemunhar a pessoa bela e amiga que foi. Eu sou uma dessas pessoas. Todas as vezes que o encontrava, recebia dele beijos e abraços e declarações de uma grande amizade. Invariavelmente eu percebia olhares repulsivos, já que Carlinhos tinha se entregado ao desprezo pela vida depois que viu sua única filha e sua ex-esposa serem mortas em um incêndio sem que tivessem chance alguma. Mas nunca, nenhum desses seus amigos deixou de cumprimentá-lo. Carlinhos vai e nós ficamos com um sentimento de que podíamos ter feito mais para ajudá-lo.
Morre um Rebelde Livre!
Morre alguém que nunca se deixou levar pelas normas impostas pela sociedade. Carlinhos foi Livre até o último sopro de vida. Morreu deitado em uma cadeira “preguiçosa”. Instantes antes ele chamou a todos para se despedir. Olhou e deu seu último suspiro. Teve todos a sua volta, como só os grandes conseguem.
Carlinhos deixa saudades em meu coração e nos de seus muitos amigos. Os amigos da Libanesa.
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