Infelizmente a população brasileira está
habituada a conviver com a ineficiência do SUS. De fato, saúde pública é um
problema crônico. E em meio aos entraves e falta de integração das redes de
assistência encontra-se o médico, que de maneira injusta é responsabilizado por
questões que não dependem da sua atuação profissional.
A maioria das pessoas que escolhem a
medicina como profissão tem o genuíno interesse de ajudar o próximo. Porém,
algumas tentativas são frustradas, seja pelo estágio avançado da doença ou
porque os recursos disponíveis são insuficientes. Ainda assim, alguns estigmas
são jogados contra os médicos na tentativa de fazê-los bodes expiatórios para o
caos da saúde pública.
Os médicos têm compromissos vocacionais
sustentados com sofrimento, angústia e depressão. Dia após dia é recorrente a
falta de infraestrutura, iminência da morte de pacientes que poderiam ser
evitadas, atraso de salários, agressões físicas e o seu aviltamento perante a
sociedade. Entretanto, o arraigado altruísmo é a voz que ecoa no empenho incessante
em curar e aliviar a dor dos pacientes, mesmo quando todos os limites foram
superados. Lidar com o sofrimento alheio não é fácil e gera sentimentos, afinal
o médico também tem emoções.
Os cidadãos reiteradamente são violados
pelo Estado brasileiro, pelo fato de serem vítimas da ausência de direitos
sociais. O cenário real do SUS é diferente do formato idealizado na
constituição federal. Na prática, apresenta limitações que cursam desde a
dificuldade de acesso até a falta de resolubilidade. É uma rotina dos pacientes
que necessitam de utilizar os serviços.
A União transfere ônus cada vez maiores
aos Estados e municípios, sem que haja qualquer organização hierárquica que
reflita em ações efetivas. Muitos gestores municipais têm desativado serviços
próprios e passado responsabilidade para as vizinhas, mantendo a desordem na gestão
da saúde. Pacientes perambulam em ambulâncias na tentativa de conseguir
atendimento, exames, cirurgias ou tratamentos.
A saúde não pode ser utilizada como
instrumento político e, portanto, políticas de Estado devem ser implementadas
em detrimento às medidas pontuais de governo. Sistemas de saúde pública como no
Reino Unido estabelecem metas e têm planejamentos ancorados em pilares
fundamentais: acesso universal, sustentabilidade financeira e qualidade nos
serviços prestados, com análise de resultados.
Aos médicos, torna-se urgente a aprovação
da carreira de Estado (PEC 454/2009) a fim de eliminar os vazios assistenciais
e gerar uma interiorização verdadeira do médico, havendo progressão funcional,
infraestrutura e acesso a aperfeiçoamento contínuo. Essas medidas mudarão a
saúde pública no Brasil. Enfim, como disse Machado de Assis, “o país real
revela os melhores instintos, mas o país oficial é caricato e burlesco”.
Por Tiago A. Fonseca Nunes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário