Onde estão os restos mortais do Anjo das Pernas Tortas? (Por Oscar Paris)

É com prazer que estou aqui de novo para um bate papo, principalmente em um momento tão conturbado para o Brasil e para os brasileiros. Mas, infelizmente hoje, tenho que dá a mão à palmatória e admitir que de fato somos o país da piada pronta. Piadas na maioria das vezes cômicas. Entretanto e lamentavelmente, quase sempre trágicas. Entre notícias sobre um Impeachment de um presidente ilegítimo e semi-deposto, de um senador mineiro, mais atolado em corrupção do que farinha de mandioca num prato de tutu. Eis que, alguns veículos estamparam esta semana uma manchete no mínimo surreal. Pra não dizer escandalosa mesmo nesse cenário Dantesco em que se transformou o país tupiniquim.
Pois acreditem, senhoras e senhores, os restos mortais de Manoel Francisco dos Santos, falecido em 1983, aos 49 anos, simplesmente sumiram, desapareceram, evaporaram sem deixar rastros. Ah sim, entendo! Você não nenhuma ideia de quem é, o que fez e o que representa o Seu Manoel Francisco dos Santos para o povo brasileiro. E vai ficar ainda mais atordoado ao sabe o que consta no atestado de óbito do tal Manoel. “Falência múltipla dos órgãos em decorrência de alcoolismo”. É, acontece nas melhores famílias. Pois saibam os senhores que o quase anônimo Manoel, conhecido mundialmente como Mané, já foi chamado de Alegria do Povo e também de Anjo das Pernas Tortas. Entretanto, o apelido que o identifica de imediato e dá a dimensão da sua importância é Garrincha. Nome de um pássaro comum pelas bandas de Pau Grande, município Carioca da região de Magé, que presenteou o mundo com o maior camisa sete de todos os tempos. Mas, voltando a vaca fria, é isso mesmo que os senhores leram. Ninguém sabe onde estão os restos mortais de Mané Garrincha. Um herói nacional com cara, corpo e espirito de Macunaíma e que fez do futebol motivo de orgulho e glória para um país fadado a conviver com o pessimismo, com a corrupção e com os falsos profetas.
Os ossos de Garrincha, bicampeão mundial, ídolo maior e eterno do glorioso Botafogo, estão em endereço desconhecido dos fãs, amigos e até familiares. O que deixa claro que jamais Garrinha teve um tumulo descente, um mausoléu, ou mesmo um memorial que guardasse para sempre seus feitos, suas conquistas e sua simplicidade. Esse artista da bola merecia um descanso digno, não só por ter honrada a camisa e a bandeira do seu país, mas por representar com arte e talento o melhor desportista brasileiro. E cá entre nós, não se trata de espirito de Vira Latas, mas precisamos admitir que se Garrincha fosse europeu, americano, asiático ou tivesse nascido em qualquer país Latino-americano que preserve e se orgulhe de sua cultura e sua história, ele teria estatua, museu com painéis interativos e seu tumulo seria local de visitação frequente. Não duvide, em dezenas de países, a catacumba de Garrinha seria ponto de visitação turística. Mas no Brasil, se quer sabemos para onde foram levados. Ou teriam sido furtados os ossos daquele que para muitos foi ainda melhor que Pelé?
Isso também é culpa de nossa memória, que se ocupa em lembrar do par romântico da novela das oito, aquela que fez sucesso nos anos 90 do século passado, mas que se esquece com enorme facilidade, para não dizer desleixo de um verdadeiro mito mundial, adorado e venerado pelos amantes da bola em todo o planeta terra. Mas não! O que nos interessa é saber como vão e como vivem os participantes de um Reality show mais escabroso, pornográfico e desrespeitoso que uma TV pode oferecer. Não atoa e frequentemente, elegemos ladrões contumazes simplesmente porque, olha a memória franca de novo, esquecemos de seus escândalos, justo ali, no mandato passado.
Acho, no fundo, no fundo, que nós, povo brasileiro, por desrespeito aos nossos antepassados, a nossa cultura e aos nossos ídolos, devemos ter também impeachment, devemos ser impeachmado e ter nosso sonhos e felicidades cassados para sempre, para assim, quem sabe, aprendermos a valorizar o que tem valor de fato e de direito. E não esqueça. Use a cabeça, porque essa gradada no pescoço, é impossível de esquecer.


Por Oscar Paris – colunista do Programa Balaio.

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