O muro.

Nas minhas lembranças da minha infância há um lugar especial para O Muro. Ele que dividia a cidade em duas. A dos que moravam no acampamento da Chesf – Companhia Hidrelétrica do São Francisco, e a outra cidade. Construída por aquelas pessoas que ou não quiseram trabalhar na empresa ou não tiveram a chance de conseguir à tão sonhada estabilidade.

Na sua maioria, aqueles que tinham sua morada na Vila Poty, tinham que se identificar para ter acesso à vila operária, mesmo que fosse para ir ao hospital em caráter de urgência. Bastava colocar o pé nas guaritas para logo os guardas pedirem um documento de identificação. Era assim que vivíamos nos tempos em que Paulo Afonso na Bahia era dividida por um muro.

No inicio ele era só de arame farpado, e parecia que era só para segurança e não para separar, mas logo colocaram pedras para dificultar ainda mais as tentativas de entrada. O Apartheid era aqui. Mesmo assim, sempre se encontrava uma forma de burlar a segurança e conseguir dar “um pinote” e ir ao balneário, que naqueles tempos ainda se podia tomar banhos pulando de trampolins em água limpa.

Mesmo com a separação da cidade em duas. Boa parte da população dos dois lados vivia em harmonia. Claro que, dos dois lados, tinham aquelas pessoas que faziam de tudo para essa sociabilidade não acontecesse. Claro que sempre vão existir aqueles que se atrevem a achar que alguém é superior ao outro. E mesmo quando durante muito tempo fomos chamados de “cata osso” por alguns dos que se sentiam superior, nós vivíamos felizes aqui na Poty.

O muro hoje já não existe em sua forma de intimidação, mas ainda dá para ser visto os restos daquele que um dia serviu para dividir uma cidade no nordeste do Brasil. Basta que os mais jovens ao passar pela Rua da Harmonia dêem uma olhada, que lá está o que sobrou do muro, agora servindo de lembrança. E que lá fique para que todos saibam que nossa sociedade foi dividida em duas.

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