No fio da navalha. (Emiliano José)

Todo texto tem para mim uma magia própria. Dificilmente, e são manias já de longa data, de quem já escreveu muito, tenho um planejamento consistente, anteriormente pensado. É como se o texto me levasse. E neste caso, depois de ter lido o livro de Ricardo de Azevedo, (Por um Triz, Memórias de um militante da AP. São Paulo: Plena Editorial, 2010), creio que a sensação de deixar a vida me levar é ainda maior.

Por um triz é um título mais que adequado. Poderia, para recorrer às minhas tentações com títulos, também receber o título No fio da navalha, que não seria impróprio, pois a sensação é também essa ao pensar no protagonista, que vive em perigo permanente, como acontece com quem combate ditaduras, com quem foge delas quando pode, com quem enfrenta exílios, com quem enfrenta torturas e prisões, com quem coloca a vida em jogo a todo instante, com quem se depara com golpes inesperados, como o do Chile.

O ritmo do texto é impressionante e a contribuição sobre o que significa a experiência da militância, das prisões, das dificuldades da clandestinidade, do exílio, dos muitos amores, das muitas frustrações, dos muitos rompimentos, de toda natureza, das mudanças contínuas, de toda natureza, a contribuição sobre tudo isso é impressionante. É provável que quem não tenha vivido tais experiências consiga apreender todo o significado delas. Mas, é claro, a leitura é mais intensa para quem viveu coisas tão semelhantes, como no meu caso.

Nenhum comentário: