Herança. (Paula Marcondes)

Daqui alguns dias ocorre o II Encontro Nacional de Blogueiros. Companheiros do Brasil todo se reunirão em Brasília para solidificar ainda mais as discussões em busca de uma Comunicação Social mais democrática para o país.

Faço parte do grupo que organizou o Encontro de São Paulo e também tive a oportunidade de participar do Encontro do Rio Grande do Sul. Só não fiz parte de uma mesa no Encontro Estadual da Bahia, porque um pequeno acidente doméstico com meu filho me impediu de participar. Acompanhei a maioria deles via internet e, sem exceção, percebo que uma das coisas mais importantes a se aprender com essas reuniões é a de se debater respeitando as diferenças de pontos de vista de cada um, sempre pensando em um bem maior, que é a união de nossas forças.

Sempre tive essa tendência conciliadora e tenho questionado muito de onde isso surgiu. Faço parte de uma família que pensa de forma diferente à minha. Meus valores políticos se formaram por leituras, observações do mundo, pela faculdade que escolhi cursar e pelas pessoas que fui encontrando em meu caminho. Dentro de casa, minhas posições sempre foram “do contra”. Costumo brincar que sou a ovelha vermelha da família.

Há pouco tempo perdi meu pai. Alguns dias antes, talvez com ele já sentindo o destino, tivemos uma conversa. Eu havia acabado de chegar de Brasília, após a posse da Dilma - que não foi a candidata dele - e ele olhou bem fundo nos meus olhos e disse: “filha, eu tenho orgulho de você”. Na hora achei até estranho, afinal nossas opiniões sempre foram opostas e perguntei a ele o por quê dessa frase, para a qual recebi a resposta de que ele via em mim uma mulher que lutava pelo que acredita e que isso não só é mais importante do que ele não concordar com o que acredito, mas também essencial para que ele acreditasse na minha felicidade.

Naquele momento eu não entendi a profundidade dessas palavras, cuja simbologia só consegui perceber há pouco. Hoje entendo que, mesmo com todas as diferenças de visão política, meu pai me passou uma herança mais valiosa, que é a de respeitar o próximo, de lutar por justiça, de defender seus ideais e, acima de tudo, de saber conviver dentro de uma pluralidade de ideias e pensamentos. Sempre há o que se aprender com o outro, mesmo que ele veja o mundo por lentes de outras cores.

Pelo meu pai e toda minha história com ele, continuo de cabeça erguida lutando pelo que acredito. Pelo meu filho, pequenino, e todo o futuro que ele tem pela frente, continuarei a seguir atrás disso. Mesmo que para alguns pareça utópico, essa é a herança que quero deixar, além de ter a oportunidade de um dia olhar para ele e repetir: “filho, eu tenho orgulho de você”.

E que todos esses Encontros de Blogueiros nos ensinem a achar o melhor caminho de unirmos nossos ideais, nossas diferenças e nossas forças para um dia de fato conseguirmos ter voz ativa em um mundo com uma comunicação de massa mais democrática.

Paula Marcondes é membro da Rede Liberdade na Internet.

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