LEGUELÉ MARQUES, MARCOU. (Antonio Godi)

Foi numa quinta-feira 26 de agosto de 2010 que o nosso mundo tremeu e silenciou. Chuvas a dissolver parte de nós da capital e do Recôncavo quando assisti mais um gol e canção de Leguelé. Esse grande passe não foi dado pelo seu irmão de sangue e luta Alberto Leguelé. Um dos maiores jogadores da briosa torcida do Esporte Clube Bahia. Foi uma jogada do destino que gostaríamos que fosse diferente e glorificante como foi a construção de sua obra musical. Ele foi um goleador como o irmão só que na dimensão da musica e da cultura de uma Baia de Todos os Santos que não pode esquecer as contribuições de uma brasilidade original. Uma brasilidade que tem o Recôncavo como capital de nossa independência nacional na data do 2 de julho reconfigurando o país com cientistas e artistas diferenciados.

Foi em Santo Amaro num fim de tarde triste que olhei pela última vez o semblante silencioso de um grande poeta e compositor do recôncavo e dos sertões de nós: Leguelé Marques. Lá estava Lega, estirado na horizontal prestes a cumprir sua passagem para sempre. Feição resoluta e orgulhosa como o rio Subaé que apesar dos descasos e descuidos urbanísticos desliza altivo representando a história de nós todos. Leguelé Marques flui em águas resolutas de nossa música como Piti, grande músico do tropicalismo morto sem as glórias que merece. Glórias que o grande Tóm Zé reconquistou com ajudas de águas externas.

Lá estive por conta do contato telefônico sempre presente de meu irmão Jorge Papapá. Militante de nós e grande admirador de Lega. Lá estive numa trincheira da vida e da morte diante de uma representação de uma poética e musicabilidade baiana que não pode ser esquecida. Lá, estávamos com Carlos Pita, Oscar Paris, Cardan Dantas e as lágrimas que Ari da Matta anunciava desaguar dos olhos de um dos ilustres compadres do falecido. Todos diferenciados na construção de nós. Leguelé é dessa linha diferenciada, grande no texto e na visão de nós. Grande como Jadmaro com sua pegada percussiva no violão reverberando no Teatro Vila Velha do grande João Augusto anunciando novidades estéticas na Bahia.

Leguelé vai e fica a Bahia que pouco sabe de si mesma. Espero não continuar sendo a Bahia de sempre. Triste Bahia que ousa esquecer de si e de todos nós. Gregório de Mattos poeta primeiro de nós falou de nós e de nossos esquecimentos. Leguelé cantou essa Bahia sem esquecer de nós. Impossível pensar a importância da cultura e música baiana sem esses nomes. A cultura de nós deve saber da importância determinante da música na construção de sociabilidades plurais protagonizadas por heróis como o maestro Vivaldo Conceição, o compositor Lidenberg Cardoso. E, outros tantos como o exuberante Alcivando Luz cimentando e negociando uma nova MPB sincrética e plural.

A passagem de Lega. Como era chamado pelos que reconhecem sua obra e caminho de luta através da música. É um marco do desconhecimento, descompromisso e descaso da cultura baiana para com seus heróis musicais. Um marco de um mercado desconcertado, capitalista e voraz que insiste em usurpar a cultura popular. Um mercado que a partir de negociações com o nefasto golpe político das décadas de 60, 70 e 80. Instauraram uma nova política de mídia na Bahia destronando nossas tradições recentes como os tratores que invadem as praias de nós. Viva as praias de nós e nossos músicos e poetas! Viva o Comendador Juvená das praias e dos muitos Carnavais. Viva Leguelé Marques que não temeu os ferros, plásticos e petróleos contemporâneos. Viva Lega! Um homem que legou para nós parte do que somos. Grande legado.

Por Antonio Jorge Victor dos Santos Godi.

(Antropólogo, ator e Prof. da UEFS/DCHF/NUC)

Um comentário:

Unknown disse...

Grande Dimas!
Godi e Lega agradece a publicação...
Sei q. foi m. uma ação de n. irmão q. agrega...
Papapá q. centra praça c. as cavalarias...
Aproveito p. mandar um abraço p. meu ex presidente: Emiliano...
Esse sim p. reivindicar ser um Zé...
Outros estarão à deriva nas Serras da demagogia.
A. Godi (Ligado...)