DIRCEU BOTA A BOCA NO TROMBONE

''Tenho representatividade para participar da vida política do País''

José Dirceu: ex-ministro; petista crê que será absolvido pelo STF e diz que pedirá anistia na hipótese de julgamento ficar para 2013 ou 2014

Ana Paula Scinocca, BRASÍLIA
Três anos depois te ter o mandato de deputado cassado - no auge do escândalo do mensalão -, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu afirma ter convicção de que será absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Avalia que sua substituta no posto de braço direito de Lula, a ministra Dilma Rousseff, tem "grande" chance de emplacar como candidata do PT à Presidência em 2010, e que os tucanos agem como se o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) - principal pré-candidato da oposição -, já tivesse sido eleito. "Essa história está distante da realidade. O Serra tem de conquistar Minas e Rio, porque o Norte e Nordeste ele não vai conquistar. E Minas e São Paulo serão os Estados mais afetados pela crise", afirma, em entrevista ao Estado. As respostas de Dirceu foram dadas por e-mail. A seguir, os principais trechos.
Três anos depois de ser cassado, o senhor ainda pensa na possibilidade de anistia?
Depende. A rigor eu tenho direito à anistia, porque a Câmara me cassou sem provas. Mas tomei a decisão de não fazê-lo até ser julgado pelo STF. E tenho certeza de que a absolvição vai acontecer. Se o STF der sinais ou provas de que só vai julgar em 2013 ou 2014, ou seja, 8 ou 9 anos depois que fui acusado de chefe de quadrilha e corrupto, evidente que vou pedir anistia. Até porque acredito que tenho esse direito.
Qual seu projeto para retomar suas atividades políticas?
Faço atividade política, nunca deixei de fazer. Participo do debate político do País com meu blog (www.zedirceu.com.br), com entrevistas, palestras. Gostaria de voltar plenamente à atividade política, mas não tenho projetos sobre o que vou fazer. Meu projeto agora é me defender, provar minha inocência.
Durante a Operação Satiagraha, o senhor reclamou de grampo e invasão em seu escritório. Ainda acha que seus passos estão sendo monitorados por órgãos do governo?
Meu caso é escabroso. No começo do ano, soube pela imprensa que o sigilo do meu telefone tinha sido, por autorização judicial de um juiz (Fausto de Sanctis), interceptado a pedido do promotor público do caso Satiagraha. Era o mesmo promotor do caso MSI Corinthians, como também o delegado é o mesmo na Satiagraha e no caso MSI Corinthians (Protógenes Queiroz). Pois bem, até hoje - e basta olhar o inquérito para ver - não há nenhuma fundamentação legal para interceptação telefônica. Mas houve a interceptação, e não só a minha, como a do meu advogado, do assessor que faz a minha agenda, do advogado do escritório a mim associado em Brasília, de um outro assessor meu em Brasília e da Evanise Santos, minha companheira. Isso quando eu não tenho nada a ver com a Operação Satiagraha, com o Opportunity nem com o Daniel Dantas. A própria investigação deles prova isso. Todas as investigações feitas até agora a meu respeito me inocentam.
Qual sua relação com o presidente Lula?
Quando foi a última vez que conversaram?Minha relação com o presidente Lula é de companheiro, de amigo e de um ex-ministro, ex-presidente e ex-deputado do PT. Não é a mesma relação que eu tinha antes com ele, uma relação de trabalho, de dia-a-dia, de construção de um projeto. Eu encontro o presidente quando ele sente que existe necessidade. Não o tenho visto com freqüência.
Qual a possibilidade de a ministra Dilma Rousseff emplacar como candidata do PT em 2010?
Grande. Ela, na verdade, a cada mês que passa, conquista a adesão de militantes e dirigentes do PT. Cada dia é mais conhecida no País. É a candidata do presidente Lula, do PT e tem grandes chances de ir para o segundo turno. Os tucanos se comportam como se o Serra já estivesse eleito, mas essa história está distante da realidade. Primeiro, o Serra tem de disputar com o Aécio Neves; segundo tem de conquistar Minas e Rio, porque o Nordeste e o Norte ele não vai conquistar; terceiro, São Paulo e Minas serão tão ou mais afetados do que o País pela crise em nível nacional. Eu não vejo por que nós não possamos vencer as eleições de 2010. Na verdade, nós estamos no governo. Eles é que têm de ganhar a eleição. E o provável é que nós vençamos e não eles.
O senhor se considera um ministro sem pasta?
Não. Sou o José Dirceu e na medida em que represento uma parte da história da esquerda brasileira, da luta contra a ditadura, da resistência armada, da luta na clandestinidade, uma parte da construção do PT, nesse sentido eu tenho uma representatividade para participar da vida política do País e ajudar o PT, o governo e a esquerda. Isso não significa que eu tenho poder.
Públicado no Jornal O Estadão.

Nenhum comentário: